Apresenta
LUIZA TAVARES DE ALMEIDA MILAN

Luiza Milan com seu cavalo.

Para celebrar o início do maior campeonato esportivo do mundo, convidamos Luiza Milan, atleta profissional de adestramento, uma das modalidades do hipismo, para uma entrevista exclusiva. Luiza entrou para o livro dos recordes como a atleta mais jovem a competir no adestramento durante os Jogos de Pequim, em 2008, com apenas 16 anos. A seguir, ela fala sobre as vitórias, aprendizados e desafios que marcam a sua jornada!

BB. Com quantos anos você começou montar?

LT. “Na minha casa a gente brinca que eu aprendi a andar a cavalo antes de aprender a andar. Meus pais têm uma fazenda no interior de São Paulo, onde o meu avô materno criava cavalos e a gente passava todas as férias, finais de semana e feriados. Depois de um tempo, meu pai também começou a criar cavalos. Então, essa influência veio dos dois lados, desde que eu me entendo por gente.”

BB. O que mais te fascina nos cavalos?

LT. “No hipismo, o cavalo e o cavaleiro têm que se tornar um, e para isso acontecer, é preciso criar uma conexão. E essa conexão só vem com respeito, admiração e, claro, com a rotina. Quanto mais tempo de sela, melhor você vai conhecer o seu cavalo, os limites e os pontos fracos e fortes dele, e formar um conjunto. É um amor que tem que ser conquistado.”

BB. Como é participar das Olimpíadas? Conte de quantas já participou, e qual foi a mais marcante e por quê.

LT. “Participar das Olimpíadas é o sonho de qualquer atleta. Eu já participei de três – Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016. Todas foram muito especiais, mas a do Rio tem um lugar especial dentro de mim, porque, além de estar em casa, os meus irmãos estavam comigo no time, não só torcendo, mas participando e me ajudando.”

BB. Conte sobre a sua experiência em participar de grandes torneios, tão jovem.

LT. “Esse quesito da idade sempre me rodeou porque, no hipismo especificamente, a idade média dos cavaleiros está entre 35 e 45 anos. Por ser um esporte altamente técnico, a experiência conta muito. Acho que a palavra-chave é preparo – o que te faz conseguir passar por momentos de pressão –, e uma boa equipe, com certeza, porque ninguém vai a lugar algum sozinho.”

"Ter disciplina, coragem de enfrentar...
Saber que a motivação vem da disciplina,
não importa se é um dia bom ou ruim."

A atleta com seu cavalo na hípica onde costuma realizar seus treinos.

Luiza usa os anéis da nossa collab com Hector.

Durante a infância, já iniciando seus primeiros saltos.

BB. Que conselho você dá a quem deseja se tornar atleta profissional de hipismo?

LT. “E eu acho, que tendo uma boa equipe e um bom preparo, suas chances aumentam muito, e essa pressão vira estímulo para você representar da melhor maneira possível o seu país. Apesar do hipismo ser considerado um esporte individual, por termos um ser vivo do outro lado, que não fala a nossa língua, vamos dizer assim, a equipe por trás é essencial para te ajudar a decifrar essa linguagem: veterinário, técnico, chefe de equipe, o ferrador e o tratador, que fica mais com o cavalo do que os próprios cavaleiros."

BB. A quais características você atribui as suas conquistas esportivas?

LT. “Acredito que à conexão com o esporte em geral, que começou desde cedo. Meus pais são grandes entusiastas de esportes, e desde pequena eu sempre pratiquei várias modalidades. Ter disciplina, coragem de enfrentar... Saber que a motivação vem da disciplina, não importa se é um dia bom ou ruim.”

Luiza competindo durante os jogos Rio 2016.

BB. Qual é o principal ensinamento do hipismo que você leva para a vida?

LT. “O esporte ajuda a formar caráter porque imita a vida. Os princípios que ele te passa, você leva adiante – respeitar o adversário, ter uma hierarquia, responder ao técnico, trabalhar em equipe, aprender a perder, claro, e aprender a ganhar, que é uma das grandes dificuldades. Depois que você ganha, como fazer para se manter no topo... São valores muito fortes que moldam o caráter de todos que têm essa relação com qualquer esporte que seja, principalmente o competitivo.”

BB. Se lembra de algum conselho que te ajudou nesse processo?

LT. “Em 2007, eu fiquei fora da equipe para os Jogos Pan-Americanos, e o técnico justificou isso pela minha idade com razão – era uma responsabilidade muito grande para uma menina de 15 anos. Mas claro que foi um momento doloroso, afinal, são anos de dedicação. Meu pai, porém, me deu um conselho que eu nunca mais esqueci: ‘Filha, você se dedicou, deu tudo de si, então essa tem que ser a sua medalha, o seu mérito. É a isso que você tem que dar valor. Então, erga a cabeça e vamos em frente’. Depois disso, a equipe teve dois desfalques e eu acabei indo para o Rio como reserva. Um dia antes da competição, entrei como titular graças a esse conselho que mudou a minha atitude e fez com que eu voltasse a treinar no dia seguinte e estivesse preparada. Isso foi um divisor de águas para mim, tanto no aspecto profissional quanto no pessoal.”